domingo, 9 de agosto de 2009

O D E M - Meu Eu De Outrora

Tem algo errado por aqui, eu nunca tive tanto medo antes e agora mal posso sentir minhas pernas e o coração palpita com intensidade maluca. Por favor alguém me ajude...
NÃO! Não posso aceitar a ajuda de ninguém, é perigoso demais. Minha desconfiança ingênua não permite deixar ninguém se aproximar de mim, eu já não sei o que pode vir a seguir e ao menos consigo imaginar. No momento estou atônito e tudo pode ser ruim ou bom de mais. Se pelo menos eu soubesse onde estou mas tudo é breu. Não consigo ver se é um quarto de dormir ou uma sala de estar, talvez seja uma cozinha, ou ainda pior; um banheiro. Sim, pode ser um banheiro e isso explicaria o fedor horrível, possivelmente de algo podre jazido no ambiente onde estou. Aqui não tem música, não tem ruído, não tem voz mas tem uma algazarra pra dificultar minha imaginação.
Não quero me mover, qualquer sinal de existência pode ser fatal, sei que pode. Se eu der um passo não sei onde vou cair, talvez eu perca o equilíbrio e não consiga me estabilizar e isso seria o bastante para eu desistir de tudo. A escuridão proporciona meu desespero pois se houvesse luz eu saberia agir. Talvez eu seja um fraco perdedor pra dizer isso mas não posso ser.
É tudo culpa da escuridão...
Acaba de me ocorrer um pensamento macabro; e se eu não estiver no meu corpo? Devo estar preso em um recipiente que nunca conheci e por isso devo estar tão apavorado. Então tudo isso poderia ser um sonho, claro que poderia. É por isso que eu não sei como vim parar nesse lugar, ou sei lá como deve ser chamado, talvez tudo isso nem exista... mesmo assim deve ser chamado de lugar?
Espero que em breve eu acorde e tudo volte ao normal. Minha felicidade, meus amigos, meu calor, meu corpo. Estou com muita saudade de ver o sol radiante clareando as ruas em frente a minha casa, de ver as pessoas caminhando apressadas para executar com perfeição os seus afazeres, de me ver no espelho e ficar feliz com minha aparência, o brilho nos meus olhos com vontade de viver.
Ainda estou nesse pavor, nesse lugar imundo que não me anima de forma alguma. Acho que terei que gritar por socorro, mesmo não sabendo o que virá me salvar ou o que simplesmente virá. Mas a desconfiança ainda é de mais. Talvez eu deva tentar me mexer então. Mas correr o risco de perder a estabilidade não é nada favorável no momento.
Luzes se acendem de todos os lados e no impulso de ver finalmente onde estou sou surpreendido por um forte clarão diretamente nos meus olhos. Que dor insuportável, lágrimas escorrem incessantemente sobre meu rosto que se deforma em um careta de dor. Meu grito ecoa com muita profundidade. Eu não posso ver nada, nada ou tudo. Um espelho grande surge na minha frente. Sólido, real, vivo. O objeto não reflete mais nada alem de mim.
Sou eu mesmo, meu corpo e não outro qualquer. Mas meus olhos mudaram, na certa pela luz que os atacou, eles agora brilham a propósito das lágrimas. Meus cabelos não mudaram mas agora sinto-os apagados, sem o brilho natural. As mão ainda jovens enrugaram um pouco, e pesam como as de um velho. Minha boca ainda vermelha naturalmente se sobressaem no rosto por terem entortado. Minha postura caiu. Oh, meu deus! Eu sou o mesmo mas... não sou.
Onde esta a realidade nisso tudo? Onde estão as minhas verdadeiras características? Posso gritar agora?
E volto a mergulhar em total escuridão...

Fanuel Ferreira

quarta-feira, 3 de junho de 2009

O GAROTO E A ÁRVORE

Antes de começar a ler este, sugiro que procure a música: ALL IS FULL LOVE da cantora Bjork e a proposta é que você possa fazer a leitura ouvindo a música.




Um garoto caminha sozinho numa estrada de terra, está descalço, roupas rasgadas, cabelo penteado, pele cheirosa, olhar lagrimejante, sorriso convicto... (imagine como pode ser). Ao longe ele nota uma árvore, talvez a mais linda que já vira em sua vida. A árvore olha para ele, e suas folhas balançam com mais velocidade,... (continue imaginando).
O garoto é bonito, em toda sua vida fora rejeitado. A árvore é atraente em sua beleza, todos os frutos que produziu até aquele momento foram podres.
Os passos continuavam calmos, cade vez mais calmos...
A distancia perturba e o garoto começou a perceber que não conseguia se aproximar da árvore. “Apressar os passos agora?”, pensou ele e continuou a andar lentamente. Quantas perguntas você já se fez e não precisou de resposta? (pense um pouco).
Nesta estrada, que eu posso visualizar com muita facilidade, é cheia de movimentos e nenhum deles chamou a atenção do garoto. Nem mesmo o rio que havia ali do lado e nele muitos peixes corriam sobre as águas. Nem mesmo o cão que estava perseguindo-o desde o inicio (que inicio?)... Nem mesmo algumas pedras que conversavam gritando de felicidade. Nem mesmo dois animais (sem nenhuma descrição) transando enquanto andavam ao lado do garoto. Nem mesmo.
Na árvore havia um fruto, apenas um. A sede e a ânsia de tocar no fruto apoderou-se do jovem, agora ele mudou o jeito de andar e de calmo passou pra muito, muito, muito lento. (consegue enxergar?)
De repente a arvore estava alí, bem na frente. Ela sorriu pra ele, ele sorriu pra ela.
“Sombra fresca
maldito calor,
que dia agradavel,
por eu estar aqui!”
Sim, subiu sim! Até o último galho da árvore e então o garoto apanhou o fruto, o único fruto que havia ali. E no vislumbrante vermelho daquela maça estava escrito: “se me comer estará cometendo um grande engano”. E então o garoto suspirou fundo, abriu a boca e sentiu o gosto perfeito daquela fruta. A maça estava simplesmente suculenta.
O garoto chorou muito, muito mesmo. Até suas lágrimas secarem, a árvore gargalhou com bastante entusiasmo, até suas folhas cairem e se você não consegue compreender apenas imagine!

Fanuel Ferreira

sexta-feira, 15 de maio de 2009

NÃO É POESIA

Existe um ser humano perfeito mas não sei aonde encontrar. Seria aquele que em toda minha vida eu possa confiar.


Fico sempre pensando por que tudo é tão oculto, tão difícil de se resolver e nunca se resolve. Por que não me falam o que sentem vontade de falar, é só falar!


Sinto tanta raiva de ouvir o tempo todo as pessoas falando mal das outras, a falsidade tornando-se uma característica tão comum em pessoas que tanto gosto.


Tenho nojo de ver tanta traição bem ao meu lado, bem perto de mim e ainda assim olhar para o traidor e ter que sorrir. É simplesmente insuportável.


Queria conviver com menos infantilidade e com mais pessoas desejando o melhor para si e refletindo sobre os outros. É assim que coisas muito boas acontecerão.


Penso em mostrar (ou demonstrar) algo... mas as vezes não vale a pena.


Se clareassem os relacionamentos talvez não houvessem tantos tropeços, por que tanto breu? Basta você acender a luz.


Desejo muito poder confiar, acho que é algo que mais desejo na minha vida.
Cansei de me enganar na hora de olhar para tais olhos e contar, chorar, soluçar, abraçar e ser tudo em vão. Que fracasso!


Eu queria também, não desejar de maneira alguma...

Fanuel Ferreira

sábado, 25 de abril de 2009

TANTO AMOR


Já amei minha calça jeans
Minha primeira mochila
Meu livro de portugues
Meu tênis popular
Minhas luvas de frio...

E hoje eu amo uma pessoa!

Já amei sair com meu cunhado
Paquerar as garotas da escola
Jogar bola na quadra do meu bairro
Ir ao clube com meus amigos
Tocar campainha e correr...

E hoje eu amo uma pessoa!

Já amei sofisticar minha degustação
Caminhar mais sorrateiro
Assistir um bom filme com amigos
Gargalhar no momento certo
Olhar atentamente,
pensar,
agir,
escolher...

E hoje eu amo uma pessoa!

Eu amo, sei que amo, só não sei ainda quem é este que eu amo!

Fanuel Ferreira

domingo, 12 de abril de 2009

MEU DESEJO É CRIAR

Eu desejo criar algo muito bom. Ter uma ideia sensacional e revolucionária. Quero ser a frente de um grande movimento, ser conhecido por todos no mundo e fazer, fazer, quero fazer. Nas noites, nos feriados, dias quentes ou frios, momentos breves e longos, espaço e tempo, seja quando for eu pretendo criar.
Tenho dezesseis anos e admito que sou um adolescente que pouco conhece da vida porém não duvidem que conheço.
Por que nasce essa necessidade tão grande de criar algo? Por que nasceu-se isto em mim? Criar o que? Eu não sei. Só quero criar. Não sei se me fará bem ou mal, causara sensações fortes ou fraca, servira de apoio ou se se apoiará em mim, nas pessoas, no mundo... o Mundo, é nele que quero aparecer.

Preste bastante atenção nos pequenos detalhes das duas cenas a seguir:


Eu estava deitado na carteira usando uma blusa como travesseiro quando me peguei prestando atenção na conversa das meninas da sala com a professora de história. São aquele tipo de garotas que pouco ligam para o conteúdo e quando tem uma oportunidade abrem a boca para reclamar. Não que eu odeie elas ou coisa parecida , só estou citando uma realidade.
-Esse “caderno do aluno” foi a pior ideia que o governo teve. Aqui não tem informação nenhuma – dizia uma delas.
E a outra concordava:
-Pelo menos tem algo bom nisso; não precisamos ficar copiando lição da lousa.
-É verdade. - concordou uma terceira.
E a professora refletia sobre, olhando para cima movimentando a cabeça vagarosamente. Ela arriscou a dizer, certa hora:
-Mas pelo menos agora temos um padrão de ensino. Todos da série de vocês teem o mesmo conhecimento.
-Ah!, professora. Ninguém esta seguindo este padrão, somente você. É por isso que pedimos para que a senhora deixe de lado esse material e faça outra coisa.
-Como o que por exemplo? - quis saber a professora.
-Bem... hoje deixa a gente ficar conversando...?


Em domingo gosto de ficar em casa descansando, o dia é bastante calmo e não há o movimento desconfortável de automóveis defronte minha casa. Gosto muito de assistir televisão e ela tem me chamado bastante a atenção nos últimos domingos.
Você já reparou na quantidade de programas exibidos nesse dia que “dá” dinheiro para os telespectadores? Ou talentosos? É grande.
Eu mudo de canal a todo o momento e continuo a escutar: “E você acaba de ganhar cem reais... duzentos... mil...”
Em geral são esses valores, sempre esses valores!


Minha vontade de criar aumenta cada dia mais, muito mais. Eu quero criar.
Acho que essa vontade não é pertencente somente a mim e sim a todos, por que de uma forma ou de outra todos percebem.
Eu sei que percebem.

Fanuel Ferreira

sexta-feira, 10 de abril de 2009

MINHA PÁSCOA

O que tem de tão especial na Páscoa? Muitos adoram a data, outros a ignoram. E eu? Hoje eu adorei.
Adorei estar ao lado da minha familia e juntos fabricarmos deliciosos ovos de chocolate, enquanto eu me divertia observava a alegria dos meu sobrinhos.
Adorei me reunir com amigos verdadeiros e juntos compartilharmos um filme bastante interessante e admirável, juntos discutimos ideias deliciosas e importante.
Adorei passear numa avenida com a pessoa que mais cuido nessa vida. O melhor amigo que estará sempre ao meu lado... este eu protejo.
Adorei sentir o vento,
Adorei ver tantas pessoas reunidas...
Adorei o clima...
Adorei os momentos...
Adorei o sol...
Acho que compreendo por que a Páscoa é tão especial, hoje ela foi pra mim.

Fanuel Ferreira

domingo, 5 de abril de 2009

MUSICA, MUSICA, MUSICA!

Neste exato momento ouço uma música calma e ao mesmo tempo muito agitada. A voz do cantor é gostosa de se ouvir. A musica dura exatamente 3:46 minutos porem é um tempo curto de mais e necessito ouvi-la pelo menos seis vezes.
Como a musica pode ser tão importante? Tenho certeza que não é só para mim pois comento com muitos amigos e eles concordam com tudo o que falo sobre a importância de uma canção. A sensação de nostalgia que ela nos traz, o suspiro de saudade.
Com o tempo aprendi muito. Hoje sei qual tipo de musica tem qualidade, qual cantor ganha dinheiro sem ao menos saber cantar, qual musico toca com desejo, quem tem voz maravilhosa e realmente boa. Minha experiencia de vida me faz saber selecionar o tipo de musica que quero ouvir e tenho certeza que ouço as melhores. Eu requintei meu gosto.
Mas querendo ou não, musica é musica. A melodia, aquela voz que você tanto ouviu, aquela guitarra ou viola, tudo isso é musica.
Outrora eu brincava na terra, solitário com apenas meus brinquedos de plásticos enquanto observava minha família trabalhar. Minha preocupação era os amigos da escola, o que teria pra jantar, a lição de casa (pintar desenhos ou copiar três linhas de um livro), a menina que tanto me olhava na sala de aula. Eu era feliz e não sabia.
Nesta mesma época eu desfilei com a escola no aniversário da cidade. Depois do desfile fui brincar no parque que havia sido montado em algum lugar perto da única praça. Eu ri muito naquele dia, brinquei bastante, cheguei demasiado cansado em casa e me lembro que neste dia dormi sem tomar banho.
O tempo passou um pouco...
Esses dias, já tarde da noite, eu estava voltando pra casa. Não havia ninguém na rua, as vezes encontrava um cão abandonado ou um rato passando rápido para entrar em uma boca de lobo qualquer, fora isso mais nada. Eu estava perdido em pensamentos da rotina, o que faria outro dia, minhas obrigações, de repente fui invadido sonoramente. Bem mais a frente um bar estava aberto e dele saia um som muito alto invadindo os ouvidos da vizinhança. Aquela música era a mesma que tocava enquanto eu gritava de alegria no carrossel, ainda criança. A nostalgia tomou conta de mim completamente, e a melancolia veio se aproximando. Era tão bom lembra da infância, aquela infância querida porem eu não podia deixar de sentir tristeza, saudade em excesso. Tinha sido bom de mais.
Eu fui me aproximando e podia ouvir agora a parte da musica que só ficava o ritmo, o som de uma viola. A sensação aumentava, as lembranças vinham à tona. Passei pelo bar mas queria ficar ali, diminui meus passos e praticamente nem andava mais. Queria ficar ouvindo a musica por muito mais tempo.
Mas fui me distanciando, a musica foi ficando, comecei a chorar silenciosamente. Realmente tinha sido pego de surpresa por tantas recordações. E a musica toda sumiu.
Cheguei em casa e sorri, é sempre assim. Depois de tanta tristeza e vontade de voltar ao passado você acorda novamente. Neste momento decidimos continuar a vida da melhor forma possível.
Recordar o passado não é um atraso de vida e sim uma nova força para vivermos coisas tão boas quanto as que já vivemos. Isto é muito bom.
A musica ainda ficou na minha cabeça. Musica é muito importante. Como ela pode me trazer tantas sensações não sei, realmente não sei. Mas não é necessário saber. Quer um conselho? Ouça uma musica.

Fanuel Ferreira

sábado, 28 de fevereiro de 2009

MINHAS VIDAS (OU INSONIA)

Você se sente sozinho em noites quentes? Ouve roncos muito semelhantes à grunhidos, de suas irmãs no quarto contíguo? Tenta ler páginas de um livro surrado pelo tempo, na luz fraca que a televisão fornece? Sente o suor descer pela nuca até as costas e não faz nada para impedir? Fica pensando sobre o seu dia e seu passado? Erros e acertos? Ambições? Eu sim.
Não sei se posso chamar de viver duas vidas ou algo do gênero, sei que de dia sou um e a noite outro.
Estou no ápice da felicidade. Sou um garoto rodeado de amigos legais, terminando a escola e praticando atividades importantes para meu desenvolvimento. Vivo romances, paixões, loucuras e mais, mais, mais.
De repente me pego sentado na sala à noite sem ninguém pra conversar, aí aquela felicidade toda vai embora e estou só, não há ombro amigo. Não posso considerar a internet meu refúgio pois nela ninguém é como é, não os reconheço. Ouço apenas sons de ventilador, áudio baixo da televisão para não acordar ninguém, insetos rodando lá fora, gatos miando. As vezes me pego esperando o telefone tocar mas ninguém vai ligar. Como posso esperar por algo que nunca aconteceu e nem sei como é? Simples, é algo que eu sei que me faria muito feliz se acontecesse.
Hora ou outra me levanto para tomar um copo de água. Experimente abrir uma torneira e sentir a água fria num verão muito quente, refrescando sua pele, adoro essa sensação mas tenho que tomar cuidado, qualquer barulho alto de mais acordará minhas irmãs. Vivo isso todas as noites.
Onde estão as pessoas? Dormindo, é claro. Me perguntou por que somente eu insisto em ficar acordado. A noite é tão chata! Essa vida é tão chata!
Eu preciso dormir por que acordo cedo e começarei a viver aquela vida mais excitante, não importa pois o sono não vem. Chega o momento que mais gosto e até me distraio, ver o relógio marcando as 00:00 hs. Que lindo essa sequência de números, é como se não existisse tempo.
Dizem que sempre há o lado bom e o ruim das coisas e é claro que já pensei bastante sobre isso pra encontrar o tão sonhado lado das minhas noites. Encontrei um; posso explorar muito mais meus pensamentos. Fico horas e horas imaginando com resenha coisas que faço por desejo, carinho ou tesão. Isso é bom pois me dá prazer, no entanto dura pouco.
Eu sou um ser humano que quer estar o tempo todo ao lado de pessoas que amo. Se isso não acontece me sinto abandonado e isso ocorre todas as noites. Cada um tem sua vida e suas preocupações, não dá para ficar o tempo todo ao meu lado, não quero aceitar isso.
Não há nada a ser feito, pelo menos por enquanto. Enquanto devo fazer silencio para não acordar minhas irmãs, enquanto devo ler no escuro para a claridade não acordar minas irmãs, enquanto sinto o suor descer pelo meu corpo e não faço nada pra não causar barulho e acordar minhas irmãs.
Espero poder em breve, sentir a água fria da torneira por mais tempo senão vou ficando louco e não quero ser um louco.


Informação: no dicionário a palavra louco significa: que perdeu a razão...

Fanuel Ferreira

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

IMAGEM E TEXTO

Olhei para uma imagem e decidi criar um texto não sabendo onde irei chegar, meu desejo é apenas expressar.

Há um mundo paralelo que eu vejo e vivo. E não é sonho, tudo realidade. Eu vejo um lugar escuro com uma claridade sem igual. Um lago raso refletindo o seu entorno, muito mato coberto de neve, árvores e pinheiros dando mais grandeza ao cenário e um céu com muitas nuvens movimentadas, aquelas que parecem correntes de vento.
Se não conseguiu visualizar em pensamento esse cenário não se importe pois nunca conseguirá. É algo pertencente aos meus desejos e escolhas e é neste lugar que posso me esconder sem jamais ser encontrado.
Eu criei o meu mundo quando simplesmente olhei para a imagem no computador. Sabe aquelas coisas que te chamam a atenção? Sabe aquilo que toma conta da sua imaginação? Sabe algo que te faz pensar em um milhão de coisas? Sabe os momentos que te faz construir algo pra vida toda? Sabe situações que te transformam? Sabe quando você se consome? A partir do momento que entrei para meu novo mundo eu me vi muito mais constituído de força.
Criar é fácil, criar algo muito bom é difícil. Eu sinto que criei algo muito bom. Primeiro por ser secreto, segundo por ser bonito de mais, terceiro por ser único, quarto por ser rico, quinto por ser diferente, sexto por ser escuro, sétimo por ser forte, oitavo por ser grande, nono por ter vida e décimo por chegar ao décimo. Sei que você também tem criações muito boas mas não quero nem tentar descobrir quais são.
Fico imaginando se toda sensação é única, se mais alguém é capaz de enxergar como eu enxergo ou chorar como eu choro. Uma imagem diz tanto pra você como diz pra mim? Claro que sim mas nunca dirá as mesmas palavras e de forma alguma as mesmas idéias.
Hoje descobri que sou amante da boa observação, de olhar um imagem e ouvir tudo o que ela quer me dizer. O mais engraçado nisso tudo é que eu manipulo as informações, todas as coisas que aprendo com uma imagem é aquilo que quero aprender.
É muito bom sentir-se dono de um lugar e saber que ali você pode colocar tudo o que lhe interessa. Mas também temos com o que nos preocupar. Há uns dias atrás vi uma imagem bastante realista, ela me dizia com clareza que tudo o que criamos pode nos dominar. Eu ainda não sei de que forma pois deve haver várias. Aí fico pensando no mundo que acaba de existir, meu mundo. Como ele pode me dominar? Olhei de novo para o lago e senti medo, era escuro de mais e eu nunca tinha ao menos molhado meus pés naquela água...
A todo momento vou estar observando qualquer tipo de desenho, escritas, rabiscos, fotos, tudo o que são imagens. Já sinto medo, é um novo universo. Tudo o que é novo nos apresenta muitas surpresas, tanto boas como ruins.
Na parede ao meu lado, exibindo uma fotografia antiga, vejo meu rosto com quatro anos de idade, à minha costa está o calendário do ano, do outro lado a janela e na frente o computador! Quando clico na outra aba aparece aquele mundo novo. O meu mundo. A minha imagem. Imagem.

Li várias vezes este texto e senti vontade de lhes apresentar a imagem que tanto citei. Meu desejo é apenas que tentem imaginar o que vejo.

Fanuel Ferreira

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

CONTATO MOLHADO

Chuva, vento, frio e força, uma combinação perfeita para uma grande tempestade. Deitado num banco da única praça da cidade o garoto de doze anos gemia de medo e fraqueza, seu corpo já quase não suportava tanta dor e sofrimento. A chuva quase o impedia de respirar, o vento surrava sua pele, o frio o fazia tremer dos pés a cabeça e a força de tudo isso era demasiado grande para aquela estrutura física raquítica. E ele continuava a gemer, cada vez mais.
Toda tempestade forte passa rápido mas é claro que para o garoto estava demorando séculos. Um século consiste de cem anos, cem anos consiste de aproximadamente trinta e seis mil e quinhentos dias, e todos esses dias consistem de mais de oitocentos e setenta e seis mil horas. Sim, é muito tempo.
No entanto o século chegava ao fim e agora já via-se o som da enxurrada entrando pelas bocas de lobo. Ainda chovia, muito pouco.
O som de um portão chamou a atenção e o fez levantar-se num pulo do banco para ver quem estava saindo na chuva. Um outro garoto, aparentemente da mesma idade que a sua, saia com um guarda-chuva grande ocultando seu rosto. Ele atravessou correndo o asfalto até chegar bem perto do banco onde o outro aguardava em pé. Dois corações acelerados, o guarda-chuva foi jogado para o lado e estabeleceu-se um contato visual entre os garotos.
Os olhos tem um poder impressionante de diálogo, é tão forte que dizem coisas que existem em nós e pouco conhecemos. Os dois garotos por algum motivo existente nos corações mais sensíveis e inteligentes, tremiam emocionados. Não precisaram saber o nome um do outro para de repente começarem a correr juntos pela chuva, subirem nas árvores, caírem, tirarem a camisa e gritar. Cansaram e deitaram-se no chão, ainda chovia bem leve e ficaram ali sentindo os pingos de água no rosto, a sensação era única...

Uma tempestade como aquela não se via há muito tempo na cidade, com seus doze anos o garoto presenciara pouco daquilo na vida. O ruído do vento era forte mas tornava o ambiente da casa mais aconchegante e ele curtia o ventinho gelado.
Da janela do seu quarto ele notou o morador de rua deitado num banco de concreto na praça defronte a sua casa aparentando ter a mesma idade que a sua, doze anos. Era tão sozinho no mundo e parecia tão triste. Por que alguém deve sofrer tanto na vida? Se isto era uma pergunta ingênua então as vezes é bom de mais ser um ingênuo por que surgem ações muito bem elaboradas e importantes na vida.
Ele teria agido antes se a tempestade não fosse tão forte e sua mãe o privasse de sair aquele momento mas assim que a forte tempestade cessou um pouco, o garoto pegou o guarda-chuva grande que ocultava seu rosto e saiu para a rua.
Não sabia ao certo o que gostaria de fazer mas qualquer coisa teria que ser feito. Correu em direção do outro que se levantava do banco e o encarava com curiosidade. Ao sentir o corpo aquecido e cheiroso pronto para se lavar, jogou o guarda-chuva no chão e o prazer de se divertir apoderou-se do jovem. Eles agora encaravam-se silenciosamente dizendo milhões de coisas um para o outro. Aquela chuva era gostosa de mais para ser desperdiçada.

Fanuel Ferreira

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

O QUANTO LIGO ENQUANTO DEVO ME DESLIGAR.

Como enxergamos pouco. Eu só observo quando sou obrigado a observar, ainda assim vejo.

A manhã era muito quente e todos a minha volta reclamavam. Sentei no último banco e fiz, o que à pouco, a mulher me pedira para fazer, aguardar.
Nunca gostei de esperar, desde muito novo eu me desesperava só de saber que teria que sentar e ficar ali, sem saber em que momento seria chamado. Isso chama-se ansiedade e pertence ao meu corpo, não é fácil deixar de ser um ansioso e o máximo que consigo é controlar as vezes... hoje eu estava controlando. Tentei me distrair com o bebedouro ao meu lado que deixava pingos de água cair lentamente e produzir um som suave. Fiquei preso naquilo pouco mais de um minuto e logo comecei a sentir o desespero começando a invadir minha perna esquerda que pisava, pisava e pisava, movimentos demasiado rápidos no chão.
Respirei fundo e a atenção sobre o bebedouro seria pequena de mais para eu me distrair novamente. Ouvi então, no fim do corredor, um chorinho de uma criança com menos de um ano de vida e era um choro muito parecido com o uivo de um lobo. Inclinei no banco para ver a criança. Era tão linda que me surpreendi com tamanha beleza. Estava aprendendo a andar e segurava na blusa da mãe quando desequilibrava-se e quase caia, quando isso acontecia ela logo começava a chorar e olhava a todos a sua volta com o rosto contraído pelas expressões do choro. Eu deveria ficar com pena mas isso a tornava uma criança muito sensível e bonita.
A voz feminina e forte chamou o nome que deveria ser da criança pois juntamente com a mãe as duas foram em direção da dona da voz. Eu fiquei olhando e sorrindo até ela entrar numa sala. Antes que a perna esquerda novamente começasse a socar o chão eu reparei como a pele de um humano muda. Algo que eu já deveria ter notado muito antes em minha vida mas fui saber só ali, notando uma senhora de mais de setenta anos. Ela aguardava silenciosamente na cadeira a sua vez. Olhava serena o vazio da sala cheia. Parecia muito cansada e com uma vontade enorme de não estar ali. Senti pena e acompanhei com os olhos todo seu corpo enrugado e flácido. Seus pés estava inchados e seu tornozelo coberto de varizes. Ao seu lado eu olhei a garota punk de uns treze anos e a diferença foi grande de mais. Os detalhes eram tantos que aquilo não ia me distrair e sim me deixar doido.
Ouvi um barulho ao meu lado e rapidamente me virei para ver o que era. Um garotinho lindo me olhava com curiosidade e quando encontrou meus olhos sorriu para mim. Então continuou tentando fazer sair água do bebedouro apertando com força o local por onde deveria sair o líquido. Eu não segurei um sorriso forte e mostrei para ele onde deveria apertar. Ele sorriu também e após tomar a água saiu correndo.
A voz feminina tornou a chamar outro nome e desta vez era o meu. Pronto, acabara a sessão de observar as coisas a minha volta. Ter que esperar os dias que pego uma senha e aguardar um atendimento para aprender tantas coisas maravilhosas chega a ser ridículo, eu deveria ser mais atento. Foi muito importante eu entender o quanto um corpo se modifica ao passar dos anos, como uma criança demonstra suas emoções quando se está aprendendo a andar, como o som da água caindo de um bebedouro é calmo e tranquilizante e como um contato visual as vezes pede ajuda e você nem percebe. Tudo isso aprendi apenas observando a minha volta em menos de cinco minutos. Imagina o quanto mais eu aprenderia se ficasse ali esperando mais de meia hora?
Para aprender tanto é mesmo necessário eu ficar esperando chamarem meu nome?...

Fanuel Ferreira