domingo, 21 de dezembro de 2008

AUTO-RETRATO

São dez horas da noite e uma Lua Cheia clareia a sala da minha casa. Estou sentado no sofá exausto depois de mais um intenso dia de estudos. Acabei de tomar banho e jantar, agora o que me resta é dormir para começar o outro dia bem animado. Mas algo está me impedindo de descansar, uma necessidade de fazer uma coisa... o meu auto-retrato.
Corro então até meu armário e na última gaveta pego algumas folhas de desenhar, um lápis e uma borracha, volto para a sala e deposito todos esses instrumentos na mesa. Fecho os olhos e me concentro pra fazê-lo com o máximo de resenha.
Os primeiros rabiscos formam a margem do meu rosto que considero dentro do padrão pois não há nada que alguém possa chamar de anormal. Agarro a borracha na tentação de apagá-lo para corrigir qualquer coisa, mas não o faço. Imediatamente traço mais alguns rabiscos e logo forma-se meu corpo adolescente acompanhado de uma mão esquerda indecisa. Percebo então que meu auto-retrato começa a se formar pois a indecisão, algo de minha personalidade, já foi colocada no desenho.
Agora corro o lápis até o lado direito e construo a outra mão. Esta está escondida dentro do bolso da minha calça jeans ocultando alguns dos meus segredos tolos e vários planos que tentei executá-los e ao fazê-lo me decpionei descobrindo que eram falíveis.
Termino a calça e começo a desenhar os pés. Penso em um lindo par de tênis que quero muito ter, isso tornaria mais sofisticado minha imagem, mas rapidamente mudo de idéia. Se desenhasse o desejado tênis estaria fugindo um pouco da minha realidade e o auto-retrato perderia um pouco da veracidade. Olho então para os meus pés e os desenho assim como os vejo; limpos, unhas cortadas e chinelo de dedo. Nunca consigo desenhar os dedos, tem muitos detalhes e sempre saem tortos, no entanto me sinto capaz desta vez e o desenho melhora muito. Observo atentamente aqueles pés resistentes e fortes e sei que estão prontos para percorrerem estrada suficiente até que eu consiga me tornar o melhor em minha carreira.
O desenho está quase pronto, só que falta a parte mais complexa. Agora tenho que traçar minhas expressões faciais. Subo o lápis até aquele vácuo dentro do meu rosto e não nego que em meu olhar há uma grande quantidade de hipocrisia, eu sou um hipócrita!
Quando termino os olhos construo as sobrancelhas grossas e franzidas que compõe a minha idéia. Desenho o nariz sem pensar muito pois a única coisa que me lembro quando penso nele é de uma pancada que me desmaiou por alguns minutos. Falta então a boca e nela preciso pensar. Sei que deseja muito aquele ser, que apesar de tão próximo, em questão de segundos torna-se saudoso. Desenho-a então com os lábios entreaberto esperando ansiosa mais um beijo. Seu beijo jamais será supérfluo...
Finalizo o desenho com meu cabelo que está sempre curto. O desenho está pronto.
Deixo o lápis deslizar pelos meus dedos e fico olhando para mim. Que garoto sombrio! Cheio de desejos, coragem, falsidade, paixão, medo. Enfim, eu.
Guardo o desenho na bolsa de escola e vou dormir. O sono vem a tona pois é muito difícil e exaustivo construir seu auto-retrato, ele pode revelar quem você realmente é.

Fanuel Ferreira

sábado, 20 de dezembro de 2008

MORTE É MINHA EXPRESSÃO FAVORITA!

“Todo mundo morre”. Essa frase eu já ouvi muitas vezes na minha vida mas não creio que seja verdade, eu nunca morri. Alem disso conheço muitas outras pessoas que também nunca morreram.
Já comentei essa idéia algumas vezes e sempre me disseram, “É por que ainda não chegou a sua hora”. Mas quem me garante que tenho uma hora marcada para morrer? Não que eu me ache imortal, mas e se eu for?
Morte é minha expressão favorita! É uma palavra que define algo que todos acreditam que irão viver e eu não. E não acredito pelo fato de eu não entender nada de morte, o que sei é que a pessoa deixa de existir, só isso. Morte para mim é verdadeiro mistério, afinal cada um morre de um jeito o que é muito curioso.
Sei de gente que morreu de leucemia, outros de tuberculose, alguns de trágicos acidentes. E se nada disso acontecer comigo? Aí tem aquela opção, a velhice. Mas mesmo quem morre de velhice é porque algum problema teve, ou foi ataque cardíaco ou qualquer outra doença. É possível eu não ter um ataque cardíaco.
Penso também em todos aqueles que “supostamente morreram” e não foi encontrado o corpo. Se não encontraram o corpo, por que achamos que a pessoa morreu?
Vamos pensar em alguem que foi conhecer uma mata e se perdeu e mesmo depois de anos não foi encontrado. Com certeza dirão que ele morreu, mas acho que pode estar muito bem estar vivendo com os animais. Pode ser o caso de uma outra pessoa que o barco afundou e igualmente não encontraram o corpo. Quantas pessoas no mundo não amam nadar? É provável que ela não queira voltar a vida que tinha e pode estar vivendo tranquilamente com os peixes.
Existem ainda pessoas que já tiveram vários ataques cardíacos, tuberculose, já se perderam numa mata, o barco afundou, é super idoso, “já viu a morte”, e ainda assim está conosco. Eu tenho certeza que estas pessoas não são de ferro ou coisa parecida, acho-as bem interessante e quem sabe imortais.
E se tudo isso for verdade, então por que acreditamos que eles morreram? Apenas por que nos dizem que foi o que aconteceu, a única explicação que acham para casos como estes é a morte. Não seria mais interessante pensar em outras formas de vida? Pode haver tantas, não é?
Pensamos na morte e esperamos por ela mesmo sabendo apenas que deixaremos de viver, mesmo sem ter certeza se realmente ela virá.
Morte é minha expressão favorita! É o refúgio para todos aqueles que cansaram de viver.

Fanuel Ferreira