domingo, 9 de agosto de 2009

O D E M - Meu Eu De Outrora

Tem algo errado por aqui, eu nunca tive tanto medo antes e agora mal posso sentir minhas pernas e o coração palpita com intensidade maluca. Por favor alguém me ajude...
NÃO! Não posso aceitar a ajuda de ninguém, é perigoso demais. Minha desconfiança ingênua não permite deixar ninguém se aproximar de mim, eu já não sei o que pode vir a seguir e ao menos consigo imaginar. No momento estou atônito e tudo pode ser ruim ou bom de mais. Se pelo menos eu soubesse onde estou mas tudo é breu. Não consigo ver se é um quarto de dormir ou uma sala de estar, talvez seja uma cozinha, ou ainda pior; um banheiro. Sim, pode ser um banheiro e isso explicaria o fedor horrível, possivelmente de algo podre jazido no ambiente onde estou. Aqui não tem música, não tem ruído, não tem voz mas tem uma algazarra pra dificultar minha imaginação.
Não quero me mover, qualquer sinal de existência pode ser fatal, sei que pode. Se eu der um passo não sei onde vou cair, talvez eu perca o equilíbrio e não consiga me estabilizar e isso seria o bastante para eu desistir de tudo. A escuridão proporciona meu desespero pois se houvesse luz eu saberia agir. Talvez eu seja um fraco perdedor pra dizer isso mas não posso ser.
É tudo culpa da escuridão...
Acaba de me ocorrer um pensamento macabro; e se eu não estiver no meu corpo? Devo estar preso em um recipiente que nunca conheci e por isso devo estar tão apavorado. Então tudo isso poderia ser um sonho, claro que poderia. É por isso que eu não sei como vim parar nesse lugar, ou sei lá como deve ser chamado, talvez tudo isso nem exista... mesmo assim deve ser chamado de lugar?
Espero que em breve eu acorde e tudo volte ao normal. Minha felicidade, meus amigos, meu calor, meu corpo. Estou com muita saudade de ver o sol radiante clareando as ruas em frente a minha casa, de ver as pessoas caminhando apressadas para executar com perfeição os seus afazeres, de me ver no espelho e ficar feliz com minha aparência, o brilho nos meus olhos com vontade de viver.
Ainda estou nesse pavor, nesse lugar imundo que não me anima de forma alguma. Acho que terei que gritar por socorro, mesmo não sabendo o que virá me salvar ou o que simplesmente virá. Mas a desconfiança ainda é de mais. Talvez eu deva tentar me mexer então. Mas correr o risco de perder a estabilidade não é nada favorável no momento.
Luzes se acendem de todos os lados e no impulso de ver finalmente onde estou sou surpreendido por um forte clarão diretamente nos meus olhos. Que dor insuportável, lágrimas escorrem incessantemente sobre meu rosto que se deforma em um careta de dor. Meu grito ecoa com muita profundidade. Eu não posso ver nada, nada ou tudo. Um espelho grande surge na minha frente. Sólido, real, vivo. O objeto não reflete mais nada alem de mim.
Sou eu mesmo, meu corpo e não outro qualquer. Mas meus olhos mudaram, na certa pela luz que os atacou, eles agora brilham a propósito das lágrimas. Meus cabelos não mudaram mas agora sinto-os apagados, sem o brilho natural. As mão ainda jovens enrugaram um pouco, e pesam como as de um velho. Minha boca ainda vermelha naturalmente se sobressaem no rosto por terem entortado. Minha postura caiu. Oh, meu deus! Eu sou o mesmo mas... não sou.
Onde esta a realidade nisso tudo? Onde estão as minhas verdadeiras características? Posso gritar agora?
E volto a mergulhar em total escuridão...

Fanuel Ferreira